Nacional
Lula diz que tentou comprar o sítio de Atibaia
Compartilhe:
O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva afirmou em interrogatório nesta 4ª feira (14.nov.2018) que quis comprar o sítio de Atibaia, mas desistiu porque o dono não quis vender.
“Pensei em comprar o sítio para agradar a Marisa [Letícia, ex-primeira dama, morta em 2017], em 2016. Eu tive pensando, porque se eu quisesse comprar o sítio eu tinha dinheiro para comprar. Acontece que o Jacó Bittar não pensava em vender, tinha aquilo como patrimônio“, disse. Marisa Letícia, mulher do ex-presidente, morreu em fevereiro de 2017.
As declarações foram dadas à juíza Gabriela Hardt, substituta de Sérgio Moro na 13ª Vara Federal em Curitiba. O depoimento aconteceu das 15h às 17h50. Esta foi a 1ª vez que Lula prestou depoimento desde que foi preso em abril.
Ao longo do depoimento, Lula demonstrou impaciência. Ao ser questionado pelo procurador Athayde Ribeiro Costa sobre as obras feitas no local, o ex-presidente afirmou que não pagou por obras que ele mesmo não pediu.
“Nunca conversei com ninguém sobre as obras do sítio de Atibaia porque eu queria provar que não era meu. Aqui nessa tribuna vocês me deram o testemunho: o sítio não é do ‘seu’ Lula. Eu pensei que eu vim aqui prestar depoimento porque o sítio era meu. O sítio não é meu“, afirmou.
Lula foi questionado sobre o depoimento prestado pelo empresário Fernando Bittar, dono do sítio, que afirmou que pensava que Lula era quem estava pagando pela obra na propriedade. “Se ele falou que não pagou achando que a Marisa tenha pago, eu não tenho mais como perguntar”, disse Lula.
O ex-presidente disse não saber se o pedido de reforma partiu de Marisa. “Como ela não está aqui para explicar, eu fico com a minha dúvida, sinceramente.” Lula ainda afirmou que não sabia de nenhuma relação entre dona Marisa e a Odebrecht.
“O que eu acho grave que você deveria perguntar é por que o Leo [Pinheiro, ex-presidente da OAS] não cobrou. Por que o Leo não cobrou? O cara que tem que receber é o cara que vai todo santo dia cobrar. O cara que tem que pagar, se puder, nem passa perto”, disse sobre o pagamento das reformas no sítio.
O ex-presidente deixou o local cerca de 10 minutos após o fim do interrogatório. Lula cumpre pena de 12 anos e 1 mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá. Este foi o 3º depoimento dele à Lava Jato.
Assista ao depoimento divido em 6 partes:
OUTROS DEPOIMENTOS
Além de Lula, Gabriela Hardt interrogou no mesmo caso:
- 8 de novembro: Marcelo Odebrecht, empresário do grupo Odebrecht; Alexandrino Alencar, ex-executivo da Odebrecht; Emílio Odebrecht, empresário e ex-presidente do grupo Odebrecht;
- 9 de novembro: Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS; Paulo Gordilho, então diretor da OAS Empreendimentos; Agenor Medeiros, ex-executivo da OAS;
- 12 de novembro: Fernando Bittar, 1 dos donos do sítio; Rogério Pimentel, ex-assessor da presidência da República no governo Lula; Roberto Teixeira, advogado e amigo do ex-presidente;
Nos depoimentos, os Odebrechts e Alexandrino reafirmaram o que disseram em acordo de delação premiada: a obra no sítio foi uma espécie de retribuição por favores prestados ao grupo pelo então presidente Lula. Marcelo Odebrecht falou sobre detalhes do pagamento e sigilo das obras. Alexandrino disse que as obras no sítio foram feitas a pedido da ex-primeira dama Marisa Letícia. Já Emílio Odebrecht disse que não podia negar a reforma à Lula pelos anos de amizade.
O ex-presidente da OAS Léo Pinheiro disse que Lula pediu a reforma do sítio e não tinha preocupação em saber dos valores empenhados nas obras. Segundo ele, estima-se que a empreiteira tenha desembolsado de R$ 350 mil a R$ 450 mil nas obras.
O empresário Fernando Bittar, 1 dos donos do sítio em Atibaia (SP), disse que acreditava que as reformas feitas na propriedade estavam sendo pagas pelo ex-presidente Lula e sua família.
O CASO
No caso, o ex-presidente Lula é réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro por meio de obras sítio de Atibaia feitas pela OAS, Odebrecht e José Carlos Bumlai. O custo seria de R$ 1,2 milhão.
O imóvel está em nome de amigos da família de Lula. O ex-presidente nega ser dono da propriedade ou ter recebido vantagens indevidas.
A acusação é baseada na delação premiada do engenheiro Emyr Diniz Costa Júnior, que disse ter recebido R$ 700 mil para a compra de materiais e serviços relacionados à obra.
Além da delação, Costa Júnior entregou em novembro de 2017 ao juiz Sérgio Moro uma planilha constando o valor. Segundo o engenheiro, o pagamento teria saído do departamento de propinas da empreiteira, intitulado Setor de Operações Estruturadas.
Investigações da PF apontam que as obras no sítio começaram quando Lula ainda era presidente. O sítio passou por 3 reformas. Uma sob comando do do Grupo Schain, de José Carlos Bumlai, no valor de R$ 150 mil, outra da Odebrecht, de R$ 700 mil e uma terceira reforma na cozinha, pela OAS, de R$ 170 mil, em 1 total de R$ 1,02 milhão.
Além de Lula, Marcelo Odebrecht, Emílio Odebrecht, Alexandrino, José Carlos Bumlai e mais 8 investigados são réus nesta ação penal.